Texto: "Dispõe-te, e vai a Sarepta,
que pertence a Sidom, e demora ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê
comida." (I Reis 17. 9)
Introdução: Um dos principais obstáculos
para vivermos o Evangelho de Jesus em toda a sua plenitude é a tremenda dificuldade
que temos de nos desprendermos de nós mesmos e dar um pouco do que temos para
Deus e para os outros. Infelizmente, as palavras do Senhor "mais
bem-aventurado é dar que receber" (Atos, 20.35) continuam sendo uma
fronteira desconhecida e inexplorada para a maioria dos cristãos, cujos
estreitos horizontes não passam d'além dos seus próprios interesses. Mas, por
que dar? Por que dar é tão importante para a nossa própria felicidade segundo
as palavras de Jesus? O texto que nós lemos é tremendamente importante para nós
entendermos porque o Senhor Jesus disse que é mais bem-aventurado dar que
receber.
1. Há uma lei que
rege o mundo físico que é a lei do fluxo e refluxo. Esta lei
determina que só recebe aquele que exercitou a graça de dar de si mesmo. À
medida que nós damos (fluxo), nós recebemos (refluxo). Jesus decodificou essa
lei do Pai quando disse: "dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada,
sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que
tiverdes medido vos medirão também" (Lucas, 6.38). O texto que lemos é um
fiel retrato desta lei inexorável da vida. Para receber, a viúva de Sarepta
primeiro teve que se dispor a dar aquilo que tinha. Por que? Porque esta é uma
lei da vida: à medida que damos, recebemos. O fluxo (dar) sempre termina num
maravilhoso refluxo (receber) da Graça de Deus em nossas vidas.
2. Dar é tão vital
quanto o não dar é mortal para nós. Ou seja, quem não dá, morre.
Quem não dá, torna-se um mar morto - sem saídas, sem vazão, sem trocas, só
recebe - por isso morto. Para não morrer (embora não soubesse disso) aquela
viúva teve que dar o pouco de farinha que tinha e o pouco azeite que lhe
sobrara. O não dar implicava na própria morte. Aqui está a ironia fina da vida.
Aquilo a que ela atribuía valor fundamental para sua vida seria o que lhe
roubaria a vida, caso não se dispusesse a entregar. Dar era tão vital quanto o
não dar seria mortal para ela. Talvez esta seja a razão porque existam muitas
pessoas que morreram para vida. Nunca deram de si para ninguém. Sofrem da
síndrome do mar morto. São lacradas, são sem saídas, são hermeticamente
fechadas, só recebem; são cisternas podres - cujas águas estão sempre paradas,
nunca se renovam. Dar é tão vital quanto o não dar é letal para nós.
3. O retorno é
sempre infinitamente maior do que aquilo que nós damos. Aquilo que
damos, volta, mas volta infinitamente maior. O retorno sempre é maior que o
investimento: "dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida,
transbordante, generosamente vos darão...". Aquela viúva deu um pouco de
farinha e azeite. O que ela recebeu? Farinha e azeite? Não! Ela recebeu a vida
de seu filho de volta (mais tarde, Elias teve que ressuscitar o filho da
viúva). Será que, se ela soubesse antes que Elias iria salvar o seu filho, teria
relutado em dar o seu pão para mantê-lo vivo? Claro que não! Ela jamais
imaginou que ao dar o seu pão para o sustento do Profeta, ela estava dando na
verdade a vida para o seu próprio filho. Jamais imaginou que o ajudando (o que
fez com certa má vontade) ela estava na verdade se ajudando. Aqui está o
problema que nos impede de dar o que temos para Deus e para o próximo: quando
damos, o fazemos achando que estamos sempre ajudando os outros e nunca nós
mesmos. Não atinamos para o fato de que ao dar o nosso "pão", não
estamos ajudando ninguém, a não ser unicamente nós. Porque o retorno sempre é
infinitamente maior do que aquilo que nós investimos. Quando Deus pede para nós
darmos alguma coisa (por mais precioso que pareça ser) é porque Ele quer nos
dar em troca algo muito maior e mais importante.
Conclusão: Olhando para algumas pessoas
que não conseguiram prosperar, é possível ver que estas pessoas ainda não
desenvolveram a graça de dar de si mesmo para outros e para Deus. Não
entenderam que, na contabilidade de Deus e da vida, é dando que se recebe, é
dividindo que se soma, é deixando escorrer de nós o fluxo da graça de dar, que
somos inundados pelos refluxos generosos da graça de viver - o que nos faz
pensar que é sempre mais bem-aventurado dar que receber...